Porque eu parei de usar o LinkedIn
O LinkedIn é uma das redes sociais mais populares que temos hoje, e é definitivamente a rede na qual pensamos quando nos perguntam sobre trabalho. Prova disso são os 830 milhões de usuários na plataforma, mais de 53 milhões só aqui no Brasil.
Ainda assim, em algumas bolhas ele é muito mal visto. Não é incomum encontrarmos prints de posts do LinkedIn viralizando no Twitter ou no Facebook, e raramente por motivos positivos. Dentro da “bolha” de tecnologia (da qual faço parte), o LinkedIn é considerado uma rede tóxica, pois está cheio de posts motivacionais dignos de coaching, além de ocasionalmente algum posicionamento polêmico de alguém C-level. Também existem os clássicos posts que imploram por interação, propondo uma espécie de pesquisa através dos tipos de reação disponíveis.
Apesar disso, não considero que esses sejam os problemas dessa rede. O que aparece no seu feed é resultado das suas conexões, e dos perfis que você segue. O meu feed é um lugar onde pessoas compartilham conteúdo, e eventualmente alguma despedida ou um kit de boas vindas de empresas.
O que me incomoda no LinkedIn é - ironicamente - o principal objetivo dele: conseguir oportunidades de emprego. Não me entendam mal, eu posso explicar.
3 anos e 6 meses atrás eu era professor num colégio de reforço escolar. Estudava microeletrônica na faculdade, mas tinha conhecimentos intermediários de desenvolvimento. Sempre participei de eventos presenciais de tecnologia, e em Dezembro/2018 eu fui no primeiro AI Fest, aqui em São Paulo, que aconteceu na sede da IBM e foi organizado pelo AI Brasil. Esse evento foi um marcador pra mim: ali me perguntei “o que eu to fazendo? Por que eu não to trabalhando com tecnologia?”. De tempos em tempos eu me inscrevia pra um estágio de desenvolvimento, mas nunca tinha me dedicado realmente a conseguir entrar na área.
E na verdade, eu já sabia a resposta. Quando uma pessoa recrutadora recebia meu currículo, ele via “física” e “microeletrônica”, não “ciências da computação” ou “análise e desenvolvimento de sistemas”. Me parecia uma explicação razoável.
Entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019 eu mandei mais de 100 inscrições em vagas de estágio. Todas, com exceção de uma, sem resposta. Curiosamente, a que me respondeu foi a DP6, empresa onde trabalho até hoje.
Entrei como estagiário em Engenharia de Dados, atualizei meu LinkedIn feliz, e parei de me inscrever em novas vagas. Depois de alguns meses, 2 ou 3 empresas me mandaram email perguntando se ainda tinha interesse, e simplesmente respondi que não.
Depois de um ano eu comecei a receber mensagens esporádicas de pessoas recrutadoras me oferecendo estagio, e sempre fiz questão de responder, mas eu realmente não estava interessado.
Em Julho de 2020 eu fui efetivado. Virei “Engenheiro de dados Junior”, atualizei meu LinkedIn, e ai as coisas mudaram. Comecei a receber mais ou menos uma mensagem de pessoa recrutadora por semana. Ainda respondia todos, mas aproveitei e configurei meu perfil pra dizer que eu não estava interessado em nenhuma oportunidade. Isso não mudou nada, as mensagens continuaram chegando. O mais estranho é que não eram relacionadas ao meu trabalho: desenvolvedor frontend com react, desenvolvedor backend com node ou java, desenvolvedor fullstack.
Enfim, em Agosto de 2020 eu tirei minha primeira certificação em Google Cloud, como Professional Cloud Architect. Isso aumentou as abordagens pra mais ou menos 2 por semana. Agora as propostas eram diferentes: devops, arquiteto de soluções, de vez em quando engenheiro de dados também.
Em 2021 virei Engenheiro de Dados Pleno, e em Agosto do mesmo ano tirei minha segunda certificação em Google Cloud: Professional Data Engineer. Tudo isso sempre atualizando meu perfil.
Depois disso as abordagens aumentaram pra 1 a cada 2 dias. Já começou a ficar difícil de responder. Elas também passaram a ser para Engenharia de Dados, na maioria.
E sinceramente, isso também não seria um problema. Me sinto lisonjeado, na verdade. O problema é o formato dessas abordagens. Recebo mensagens perguntando se “estou procurando oportunidades”, quando meu perfil diz que não, literalmente. Além disso, a maioria vem com uma falta de detalhes que chega a ser insultante. Não podem dizer qual a empresa, não podem dizer a faixa salárial, não dizem os requisitos. Simplesmente “Olá Carlos, você está avaliando novas oportunidades de trabalho?”, ou ainda “Olá Carlos, tenho uma vaga de Engenheiro de Dados, você tem interesse?”.
Para ser justo, eu sei que isso não é culpa das pessoas recrutadoras. Esses absurdos são provavelmente exigência das empresas. Também sei que devem mandar dezenas ou centenas dessas mensagens, e que a maioria vai ser ignorada.
Porém, tenho que admitir que há um ressentimento. Passei meses tentando conseguir minha primeira oportunidade, sendo completamente ignorado. Receber propostas agora que estou empregado me incomoda, pois eu vejo todos os dias colegas, familiares e amigos que precisam da primeira oportunidade, mas simplesmente não conseguem.
Sei que é complicado, e não vou me dar ao trabalho de elaborar, mas um fato é que as empresas precisam capacitar novas pessoas, e não depender de tentar contratar quem já é qualificado. Posso falar sobre isso em outro momento, mas o Manifesto Tech tentou endereçar esse ponto.
Apesar disso, vou responder todas as mensagens e solicitações que recebi. Me sinto mal de ignorar, mas os últimos meses foram corridos e acabei deixando de lado. Porém, já deixo avisado que todas as mensagens genéricas serão respondidas de forma igualmente genérica, com um “não estou interessado, mas obrigado”.
A verdade é que deixei de usar o LinkedIn porque raramente faço conexões de valor por lá. Para mim esse papel de criar conexões foi tomado pelo Twitter. Tampouco uso como currículo, já que centralizei isso no Polywork. Mas um dos meus objetivos de carreira é me posicionar como referência na minha área. Um dos meus sonhos é criar conteúdo, e sinto que o LinkedIn pode me ajudar em ambos.
Escrevi esse texto por alguns motivos: explicar minha ausência, deixar claro meu incômodo, e inspirar quem está buscando oportunidades. Também é aqui que deixo meus objetivos, para que o eu do futuro possa voltar e ver se deu certo ou não. Esse post é um primeiro passo na direção da criação de conteúdo, e uma mensagem de que apesar de ter conhecimentos técnicos, não é só sobre isso que eu quero falar.